2004
30 junho 2006
29 junho 2006
poeta é pedra
.
poeta é pedra
homem, árvore, céu,
poeta é vento
água, fumo, nada.
de poesia sobrevivente 1978/1986
(poemas qe escrevi há mais de vinte anos)
poeta é pedra
homem, árvore, céu,
poeta é vento
água, fumo, nada.
de poesia sobrevivente 1978/1986
(poemas qe escrevi há mais de vinte anos)
28 junho 2006
27 junho 2006
que dizer de um marinheiro
.
que dizer de um marinheiro
de um barco fendido pelas águas
fendido pela força da luz?
que dizer sobretudo das águas
de um barco nas zonas feridas da memória
nas horas tempestuosas do sono?
que dizer afinal dos barcos
do peso da noite sobre a proa
do peso dos barcos sobre mim
do peso da dor nestas viagens?
de poesia sobrevivente 1978/1986
(poemas que escrevi há mais de vinte anos)
que dizer de um marinheiro
de um barco fendido pelas águas
fendido pela força da luz?
que dizer sobretudo das águas
de um barco nas zonas feridas da memória
nas horas tempestuosas do sono?
que dizer afinal dos barcos
do peso da noite sobre a proa
do peso dos barcos sobre mim
do peso da dor nestas viagens?
de poesia sobrevivente 1978/1986
(poemas que escrevi há mais de vinte anos)
23 junho 2006
refrão
.
já toda a luz se faz escura
só uma réstia ainda dura.
de poesia sobrevivente 1978/1986
(poemas que escrevi há mais de vinte anos)
já toda a luz se faz escura
só uma réstia ainda dura.
de poesia sobrevivente 1978/1986
(poemas que escrevi há mais de vinte anos)
22 junho 2006
ESTUDO DE TONS DE PELE PARA MICHAEL JACKSON
Da série Estudo de Tons de Pele para Michael Jackson
pedra local e cerâmica pintada
a. pedro correia
2004
21 junho 2006
são homens, às vezes dóceis
.
são homens, às vezes dóceis
às vezes duros.
são homens, os mesmos, às vezes
incapazes do ódio, às vezes
incapazes do amor. fracos,
fortes, estremecem, riem,
capazes do deslumbre,
capazes da faca.
são homens, os mesmos, às vezes
choram, às vezes batem, às vezes
amam.
às vezes homens. às vezes tantos,
cada um.
de poesia sobrevivente 1978/1986
(poemas que escrevi há mais de vinte anos)
são homens, às vezes dóceis
às vezes duros.
são homens, os mesmos, às vezes
incapazes do ódio, às vezes
incapazes do amor. fracos,
fortes, estremecem, riem,
capazes do deslumbre,
capazes da faca.
são homens, os mesmos, às vezes
choram, às vezes batem, às vezes
amam.
às vezes homens. às vezes tantos,
cada um.
de poesia sobrevivente 1978/1986
(poemas que escrevi há mais de vinte anos)
20 junho 2006
19 junho 2006
UFF... ENCONTREI O MEU BLOG.
Durante sessenta longuíssimas horas pensei ter perdido O Afinador de Sinos. Em lugar das minhas postagens aparecia um grafismo desconhecido. Nunca pensei que, ao fim de tão pouco tempo de existência, me sentisse tão angustiado com o desaparecimento de um blog. Mas o Afinador está de volta e está perdoado. Tal como o filho pródigo...
17 junho 2006
sobre a serena solidão
.
o teu cheiro continua desconhecido
nesta casa. ainda não gastaste nenhum
sabonete nem sujaste
os lençóis os cinzeiros
a loiça.
eu cá continuo mas
vou sendo o ainda sem ti.
não me preocupo porque
a bem da própria harmonia universal
tudo se há-de resolver.
o poema aqui o tens
contudo.
de poesia sobrevivente 1978/1986
(poemas que escrevi há mais de vinte anos)
o teu cheiro continua desconhecido
nesta casa. ainda não gastaste nenhum
sabonete nem sujaste
os lençóis os cinzeiros
a loiça.
eu cá continuo mas
vou sendo o ainda sem ti.
não me preocupo porque
a bem da própria harmonia universal
tudo se há-de resolver.
o poema aqui o tens
contudo.
de poesia sobrevivente 1978/1986
(poemas que escrevi há mais de vinte anos)
16 junho 2006
15 junho 2006
AMENAS NOITES DE ABRIL
.
amenas noites de abril.
o pirilampo veste-se de fósforo intermitente
o sino toca, o morcego rodopia
tornado visível pela luz. eu
quereria oferecer-te este precioso momento
a improvável simultaneidade destas coisas.
a poesia é uma arte difícil meu amor.
trata-se de esconder o gato
deixando cuidadosamente a cauda
de fora.
palavra por palavra
como num jogo a dois
introduzo elementos
desvendo segredos
escureço a luz
aclaro sombras
convoco barcos
escolho matizes
digo meu amor em vez de
meu amor. sabes
a poesia é uma arte circular.
trata-se de descobrir pacientemente o gato
escondendo cuidadosamente a cauda.
de poesia sobrevivente 1978/1986
(poemas que escrevi há mais de vinte anos)
amenas noites de abril.
o pirilampo veste-se de fósforo intermitente
o sino toca, o morcego rodopia
tornado visível pela luz. eu
quereria oferecer-te este precioso momento
a improvável simultaneidade destas coisas.
a poesia é uma arte difícil meu amor.
trata-se de esconder o gato
deixando cuidadosamente a cauda
de fora.
palavra por palavra
como num jogo a dois
introduzo elementos
desvendo segredos
escureço a luz
aclaro sombras
convoco barcos
escolho matizes
digo meu amor em vez de
meu amor. sabes
a poesia é uma arte circular.
trata-se de descobrir pacientemente o gato
escondendo cuidadosamente a cauda.
de poesia sobrevivente 1978/1986
(poemas que escrevi há mais de vinte anos)
14 junho 2006
13 junho 2006
o mar por trás da papoila volátil
.
o mar por trás da papoila volátil.
que tempestades no interior da nossa
imensidão?
digamos: a nossa liberdade é uma regra
precisa como as marés.
digamos: somos o mar
abrigamos peixes, barcos, marinheiros.
é no interior da nossa imensidão
que o mar por vezes naufraga.
de poesia sobrevivente 1978/1986
(poemas que escrevi há mais de vinte anos)
o mar por trás da papoila volátil.
que tempestades no interior da nossa
imensidão?
digamos: a nossa liberdade é uma regra
precisa como as marés.
digamos: somos o mar
abrigamos peixes, barcos, marinheiros.
é no interior da nossa imensidão
que o mar por vezes naufraga.
de poesia sobrevivente 1978/1986
(poemas que escrevi há mais de vinte anos)
12 junho 2006
10 junho 2006
09 junho 2006
08 junho 2006
pedra sobre pedra,de pedra ergui os bancos,
.
pedra sobre pedra, de pedra ergui os bancos,
a mesa, a lareira. a mais rasa laje em frente
ao lugar da porta era o meu lugar na casa.
dali eu contemplava os barcos, o mar, o voo das
aves.
nove meses – outono, inverno, o tempo das flores,
permaneci. três ou quatro meses uma osga
hibernou sobre o meu leito. no quarto em frente
uma cobra vivia tranquila. conheci as pedras
debaixo das quais viviam pequenos escorpiões quase
negros. às vezes levava-lhes insectos, moscas mortas.
espalhava grãos pelo pátio e chamava os pássaros.
o mundo não sei. eu renasci.
de poesia sobrevivente 1978/1986
(poemas que escrevi há mais de vinte anos)
pedra sobre pedra, de pedra ergui os bancos,
a mesa, a lareira. a mais rasa laje em frente
ao lugar da porta era o meu lugar na casa.
dali eu contemplava os barcos, o mar, o voo das
aves.
nove meses – outono, inverno, o tempo das flores,
permaneci. três ou quatro meses uma osga
hibernou sobre o meu leito. no quarto em frente
uma cobra vivia tranquila. conheci as pedras
debaixo das quais viviam pequenos escorpiões quase
negros. às vezes levava-lhes insectos, moscas mortas.
espalhava grãos pelo pátio e chamava os pássaros.
o mundo não sei. eu renasci.
de poesia sobrevivente 1978/1986
(poemas que escrevi há mais de vinte anos)
07 junho 2006
05 junho 2006
T.T.
.
falo de uma casa como as casas são
no sul: branca pequena térrea
a ver o mar.
as outras têm porta. aquela não.
falo de um lugar e de um exílio
da morte do mais querido amigo.
naquela casa eu prometia a mim
mesmo o renascimento do mundo. saborosa
ingenuidade.
de "poesia sobrevivente 1978/1986"
(poemas que escrevi há mais de vinte anos)
falo de uma casa como as casas são
no sul: branca pequena térrea
a ver o mar.
as outras têm porta. aquela não.
falo de um lugar e de um exílio
da morte do mais querido amigo.
naquela casa eu prometia a mim
mesmo o renascimento do mundo. saborosa
ingenuidade.
de "poesia sobrevivente 1978/1986"
(poemas que escrevi há mais de vinte anos)
03 junho 2006
02 junho 2006
vens vestida de brando nas águas que desvendo
.
vens vestida de brando nas águas que desvendo.
trazes uma chama na alma, uma estrela vermelha.
a semente incandescende talhada dentro de ti aberta nos olhos.
por vezes assaltas as praias com teus jogos macabros,
tuas foices, teus perfumes, teus dedos agudos.
eu sou os “teus” jogos macabros e tu,
tu ris-te mansinho num canto tardio.
é quando vens vestida de tempo. eu entranço
uma corda de esperas, tu agachas-te debaixo da garganta
como um cravo negro direito ao coração.
tenho só de merecer-te lentamente
aprender-te sempre até não haver mais tu
nem eu, e nós somos imortais, sabemos.
fico a inventar-te e não habito
o espaço da tua ausência.
vão partindo e chegando comboios através do horizonte.
1981
de poesia sobrevivente 1978/1986
(poemas que escrevi há mais de vinte anos)
vens vestida de brando nas águas que desvendo.
trazes uma chama na alma, uma estrela vermelha.
a semente incandescende talhada dentro de ti aberta nos olhos.
por vezes assaltas as praias com teus jogos macabros,
tuas foices, teus perfumes, teus dedos agudos.
eu sou os “teus” jogos macabros e tu,
tu ris-te mansinho num canto tardio.
é quando vens vestida de tempo. eu entranço
uma corda de esperas, tu agachas-te debaixo da garganta
como um cravo negro direito ao coração.
tenho só de merecer-te lentamente
aprender-te sempre até não haver mais tu
nem eu, e nós somos imortais, sabemos.
fico a inventar-te e não habito
o espaço da tua ausência.
vão partindo e chegando comboios através do horizonte.
1981
de poesia sobrevivente 1978/1986
(poemas que escrevi há mais de vinte anos)
01 junho 2006
um homem atravessa a europa
.
um homem atravessa a europa
com o coração aceso nas mãos
atravessa dezembro em direcção ao norte.
foge do amor como de um lugar maldito
que por dentro o invade.
o homem prefere não olhar para trás
para não ver o amor que por dentro
o persegue.
o homem atravessa dezembro
com uma mulher nas mãos vazias
atravessa o norte em direcção ao frio
foge do lugar com uma mulher
que por dentro o invade.
não olha para trás
para não ver a mulher que por dentro
o persegue.
o homem atravessa os lugares
como um maldito que o amor persegue
não olha para trás para não ver o coração
nas mãos da mulher que
o invade.
o homem foge da mulher que ama
para esquecê-la no frio
ao norte de dezembro.
de poesia sobrevivente 1978/1986
(poemas que escrevi há mais de vinte anos)
um homem atravessa a europa
com o coração aceso nas mãos
atravessa dezembro em direcção ao norte.
foge do amor como de um lugar maldito
que por dentro o invade.
o homem prefere não olhar para trás
para não ver o amor que por dentro
o persegue.
o homem atravessa dezembro
com uma mulher nas mãos vazias
atravessa o norte em direcção ao frio
foge do lugar com uma mulher
que por dentro o invade.
não olha para trás
para não ver a mulher que por dentro
o persegue.
o homem atravessa os lugares
como um maldito que o amor persegue
não olha para trás para não ver o coração
nas mãos da mulher que
o invade.
o homem foge da mulher que ama
para esquecê-la no frio
ao norte de dezembro.
de poesia sobrevivente 1978/1986
(poemas que escrevi há mais de vinte anos)
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