02 junho 2006

vens vestida de brando nas águas que desvendo

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vens vestida de brando nas águas que desvendo.
trazes uma chama na alma, uma estrela vermelha.
a semente incandescende talhada dentro de ti aberta nos olhos.
por vezes assaltas as praias com teus jogos macabros,
tuas foices, teus perfumes, teus dedos agudos.
eu sou os “teus” jogos macabros e tu,
tu ris-te mansinho num canto tardio.



é quando vens vestida de tempo. eu entranço
uma corda de esperas, tu agachas-te debaixo da garganta
como um cravo negro direito ao coração.
tenho só de merecer-te lentamente
aprender-te sempre até não haver mais tu
nem eu, e nós somos imortais, sabemos.



fico a inventar-te e não habito
o espaço da tua ausência.
vão partindo e chegando comboios através do horizonte.

1981

de poesia sobrevivente 1978/1986
(poemas que escrevi há mais de vinte anos)

2 comentários:

ivamarle disse...

eu não costumo jurar, mas o que tenho lido causa-me arrepios, de verdade que sim! Este é mais um poema lindíssimo, é indizível a profundidade do pensamento que o transpôs para o papel, como eu gostava de escrever assim.Bom fim de semana e um beijo!!

Anónimo disse...

Very nice site! » » »