26 dezembro 2006

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LXI

Excepto em caso de necessidade absoluta, evita passear a gibóia com trela e coleira.



LXII

Não farás amigos alimentando abutres com folhas de alface.

do Caderno de Pensamentos do Sr. Anacleto da Cruz



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O sítio onde o Afinador vai passar os próximos dez dias fica mesmo ao lado de Atrás do Sol Posto. É provável que não haja net. Não havendo net, não haverá Sinos.
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O LIVRO DOS BONS PRINCÍPIOS ( XVII )

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Foi com relativa indiferença que acolhi, aí pelos meus seis ou sete anos, a revelação da não existência do Pai Natal. O mesmo não poderei dizer de quando, poucos anos depois, soube que algo semelhante se passava com D. Quixote e Sancho, a sua sombra anafada. A descoberta de que não passavam de dois seres de papel, tal como o meu amado Rocinante, encheu-me de tristeza e desilusão. Recordo-o agora, nesta minha viagem por terras manchegas que, segundo os meus cálculos, me era devida há trinta e dois anos, quando sonhava com vastas planícies e doces colinas, com moinhos e com gigantes desfazendo-se no horizonte.
Chama-se Carmen a minha Dulcineia e é por ela que percorro estas estradas com demasiada pressa e não me detenho a observar as paisagens de Quixote ( o que restará, ainda, do que viram os seus olhos? ) como sempre desejei fazer. Carmen, dizia, é bióloga, vive em Cuenca e faz pesquisa genética num instituto privado. Conheci-a em Lisboa, há pouco menos de dois meses. Acredito que ela se tenha apaixonado tanto por mim como eu por ela, prefiro ser positivo, esta é a primeira visita que lhe faço, não tenho outros planos senão estar com ela, reler Cervantes e percorrer alguns caminhos de Quixote. Encosto o carro e marco o número de Carmen. Telefonei-lhe esta manhã, ainda de Portugal, disse-me que estava impaciente pela minha chegada, sussurrou que me amava, senti o bafo do seu beijo através do auricular. O telefone toca do lado de lá. Espero. Carmenzita, mi amor, quero dizer-lhe no meu péssimo castelhano, queda poco, pouco mais do que cem quilómetros, até te encontrar outra vez. O telefone continua a tocar do lado de lá. Insisto. Nada, Carmen, mi Carmenzita, não atende. Deixo que passem dez minutos e volto a tentar. Começo a sentir-me nervoso. E se Carmen não responder?



O LIVRO DOS BONS PRINCÍPIOS
Segundas aqui

22 dezembro 2006

A OFICINA DO AFINADOR

Sinos Desafinados

Uma enormíssima parte da população portuguesa está, neste preciso momento, dentro de um centro comercial, ou a sair de um centro comercial ou a encaminhar-se para um centro comercial.
Não há centro comercial, não há natal.

21 dezembro 2006

A OFICINA DO AFINADOR

Sinos Afinados

Entrada do Museu de Física da Universidade de Coimbra

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Trata-se de um daqueles museus antigos, cuja idade oferece um charme suplementar. Pode falar-se de um discurso expositivo algo datado e reconhecer, todavia, que ele se adequa ao que ali se expõe - objectos e maquinetas destinados a testar, demonstrar e confirmar princípios da Física que, ao longo de séculos, intrigaram a humanidade. Defrontamo-nos com objectos que são verdadeiros ovos de Colombo e com outros de natureza mais complexa, alguns construídos para a realização de experiências verdadeiramente loucas e imaginativas. É um mundo fascinante e não muito visitado. Agora que os museus da ciência, os experimentários, etc., vão estando na moda, torna-se ainda mais interessante visitar este seu percursor. Deixo-vos aqui o convite para entrarem num lugar onde a curiosidade, a inteligência,o talento e o génio humano estão presentes em cada peça. Querem melhor motivo?

informações através do nº 239410602

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13 dezembro 2006

Por causa disto
o afinador vai manter a oficina fechada
durante, mais ou menos, uma semana.
Fica, no entanto, isto

para todos os que estiverem interessados.

( Porque há dificuldades de leitura:

CONVITE

MUSEU DE FÍSICA DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA

19-12-2006, terça-feira,

Inauguração às 17 h. )


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O LIVRO DOS BONS PRINCÍPOS

terça-feira no DIVAS & CONTRABAIXOS

quarta no PONTO.DE.SATURAÇÃO

12 dezembro 2006

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LIX

É cada vez mais importante falar línguas estrangeiras. Se não dominares uma, muda de país e fala a tua língua.



LX

Claro que existe um pote de ouro no fim do arco-íris. O mais difícil é saber de que arco-íris.

do Caderno de Pensamentos do Sr. Anacleto da Cruz
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Há pessoas para quem uma ditadura não passa de uma ditamole e para quem um ex-ditador caquético e manhoso é uma espécie de avôzinho querido e benfazejo.
Só assim se compreendem os confrontos que estalaram nas ruas de Santiago.
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Mais sobre Pinochet. Duas ironias.
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11 dezembro 2006

O LIVRO DOS BONS PRINCÍPIOS (XII)

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C. firma bem os pés e coloca criteriosamente os dedos das mãos de modo a não tocar na linha branca meticulosamente traçada no chão, diante de si. Retesa os músculos, está tenso como uma besta pronta a disparar, procura afastar toda e qualquer ideia, o mais ínfimo pensamento, da sua cabeça. Agora apenas importa o estoiro da pistola e a resposta que o seu corpo dará no momento decisivo. Anos de treino, esforço, concentração, tudo para que este momento dure menos de dez segundos, no mínimo menos de dez segundos.
Fora sempre rápido, muito rápido, por vezes demasiado rápido, até mesmo no acto do seu nascimento. A mãe mal tivera tempo para chegar ao telefone, ele escorrera-lhe pelas pernas abaixo como um esguicho, carne e placenta, a mãe a tentar agarrá-lo e ele a escapar-se por entre as mãos dela, viscoso e escorregadio, características que, vinte anos mais tarde, alguém lhe atribuíria.
Mas agora é imperioso retirar tudo isso da cabeça, depois do tiro tudo durará menos de dez segundos, acabam-se as memórias, as recordações, as coisas que lhe atiram à cara. Desta vez é a sério.
Para ganhar precisa de correr cem metros e levar menos de dez segundos a percorrê-los.


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Imagine o leitor-autor que pretende escrever um livro e não sabe por onde, nem como, começar. O LIVROS DOS BONS PRINCÍPIOS proporciona-lhe uma vasta gama de princípios para conto, novela ou romance que o leitor-autor poderá seleccionar livremente. Depois terá apenas que escrever o resto demorando o tempo que entender.
Hoje aqui
quarta-feira no Ponto.de.Saturação

08 dezembro 2006

Oficina do Afinador

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Sinos desafinados

Onde estão todos aqueles que gritavam - especialmente quando nada lhes era perguntado - a favor da invasão do Iraque?
Agora ( Não vale a pena individualizar links, vejam aqui ) ninguém os ouve. Fossem as conclusões outras e teríamos de aturar a chinfrineira de quem, em bicos de pés, reclamaria alto e bom som o seu pedaço de nervura de cada uma das folhas da coroa de louros do ( ex-previsível ) vencedor.
O rasto de destruição humana, económica, patrimonial e ambiental não os incomoda e é coroa que ninguém reclama. Nada é tão revelador de como a pequenez se sonha grande e conquistadora, como este silêncio ensurdecedor.

07 dezembro 2006

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LVII

Cristo devolveu a vista a Lázaro. Não era pessoa para usar vistas que não fossem suas.



LVIII

Tem sempre certezas absolutas. Talvez seja melhor do que teres dúvidas. Ou talvez não.


do Caderno de Pensamentos do Sr. Anacleto da Cruz

06 dezembro 2006

a. pedro correia
2004
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05 dezembro 2006

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LV

É possível que sejas atacado por insónias. Mantém-te alerta e acordado até que o ataque passe.



LVI

Podes fazer passar um camelo pelo buraco de uma agulha. Mas dificilmente a usarás para coser as tuas roupas.


do Caderno de Pensamentos do Sr. Anacleto da Cruz

04 dezembro 2006

O LIVRO DOS BONS PRINCÍPIOS

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IX
Quando eu nasci ofereceram-me de presente um vaso de hortênsias. O meu pai agradeceu a intenção e plantou-as no fundo do quintal. Eu era pequena e brincava junto das hortênsias. Passaram-se quase oitenta anos e apercebo-me de que elas me acompanharam ao longo dos acontecimentos da minha vida. Aos Domingos a minha mãe fazia os meus pratos favoritos e compunha um ramo de hortênsias que colocava no centro da mesa. Nas duas vezes que casei havia hortênsias. Quando os meus filhos nasceram, ofereceram-me hortênsias. No dia do meu aniversário ofereciam-me hortênsias. Se alguém desejava o meu perdão pedia-o com um ramo de hortênsias nas mãos.
Agora, neste preciso momento, espero o meu advogado para lhe ditar o meu testamento. Quero deixar bem claro que não haverá hortênsias no meu funeral. Não quero que elas me persigam desde o nascimento até à morte. Não se pode atravessar a vida sempre com a mesma flor cravada em nós.

Imagine o leitor-autor que pretende escrever um livro e não sabe por onde, nem como, começar. O LIVROS DOS BONS PRINCÍPIOS proporciona-lhe uma vasta gama de princípios para conto, novela ou romance que o leitor-autor poderá seleccionar livremente. Depois terá apenas que escrever o resto demorando o tempo que entender.
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Segundas-feiras aqui
e, agora, também aqui