11 dezembro 2006

O LIVRO DOS BONS PRINCÍPIOS (XII)

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C. firma bem os pés e coloca criteriosamente os dedos das mãos de modo a não tocar na linha branca meticulosamente traçada no chão, diante de si. Retesa os músculos, está tenso como uma besta pronta a disparar, procura afastar toda e qualquer ideia, o mais ínfimo pensamento, da sua cabeça. Agora apenas importa o estoiro da pistola e a resposta que o seu corpo dará no momento decisivo. Anos de treino, esforço, concentração, tudo para que este momento dure menos de dez segundos, no mínimo menos de dez segundos.
Fora sempre rápido, muito rápido, por vezes demasiado rápido, até mesmo no acto do seu nascimento. A mãe mal tivera tempo para chegar ao telefone, ele escorrera-lhe pelas pernas abaixo como um esguicho, carne e placenta, a mãe a tentar agarrá-lo e ele a escapar-se por entre as mãos dela, viscoso e escorregadio, características que, vinte anos mais tarde, alguém lhe atribuíria.
Mas agora é imperioso retirar tudo isso da cabeça, depois do tiro tudo durará menos de dez segundos, acabam-se as memórias, as recordações, as coisas que lhe atiram à cara. Desta vez é a sério.
Para ganhar precisa de correr cem metros e levar menos de dez segundos a percorrê-los.


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Imagine o leitor-autor que pretende escrever um livro e não sabe por onde, nem como, começar. O LIVROS DOS BONS PRINCÍPIOS proporciona-lhe uma vasta gama de princípios para conto, novela ou romance que o leitor-autor poderá seleccionar livremente. Depois terá apenas que escrever o resto demorando o tempo que entender.
Hoje aqui
quarta-feira no Ponto.de.Saturação

2 comentários:

Maria do Rosário Sousa Fardilha disse...

bom texto. com mudança de universo. e um verdadeiro Princípio. Parabéns, Pedro :+:

Anónimo disse...

espero que não seja assim tão rápido em tudo...