19 novembro 2007

Era uma vez...

Tem razão o arq. José Veloso no Canallagos Jornal On-Line. A verdade, a dolorosa e infeliz verdade, é que os intérpretes da destruição continuam a ganhar eleições e isso, de certa forma, desresponsabiliza-os. A culpa, como de costume, é da cegueira colectiva, logo, não é de ninguém.
BICICLETA

é belo o mundo visto assim, com o vento a bater-lhe na cara ( e a velocidade a separar-me do chão ).

DIA
sucede à noite e extingue-se com ela. mas repara melhor: dir-se-ia uma península singular, rodeada de noite por todos os lados excepto pelo lado do sol.

15 novembro 2007

SOLIDÃO

é quando até tu falhas na companhia que fazes a ti próprio.


DESTINO

aceite-se o recurso ao lugar comum e veja-se a vida como um livro.
- já escrito. – afirmam os que crêem na irreversibilidade do destino.
- em branco. – contrapõem outros.
tranquilizem-se, porém, os primeiros: o livro em branco nunca existiu.
folheiem-se, uma a uma, as suas páginas nuas e busque-se com atenção. algures, numa
folha mais inicial ou adiantada, lá está ela, claramente escrita. a palavra fim.

14 novembro 2007

AS COISAS

As coisas, se não fossem como são, seriam de outra forma. seriam de forma a que alguém dissesse: as coisas, meu amigo, são como são.


OCEANO

é uma confluência de sonhos e de sais. e de águas, também.

13 novembro 2007

BARCO

um homem disse: vou fazer um objecto mais pesado do que a água para atravessar este rio. os outros riram-se dele.
o homem não os ouviu porque, na sua cabeça, já viajava.

RIO

vou deitar-me neste leito – asseverou a água – para continuar a correr.

08 novembro 2007

MEMÓRIA

tal como nos computadores, é importante que possa ser apagada. um homem com a memória cheia tem um desempenho muito lento e tende a funcionar mal ou a não funcionar sequer. upgrades de memória externa recomendam-se. bibliotecas, por exemplo.



COLAR

a nudez dessa coluna de carne que se situa entre o tronco e a cabeça sempre incomodou as pessoas. de todas as coisas com que a vestiram – gravatas, laços, folhos, colarinhos, lenços, etc. – o colar é a mais delicada. um colar fino, muito simples, quase invisível; um fio, apenas.

05 novembro 2007

SETA

sabe bem que nada é eterno, nem sequer o seu voo. já o alvo, muitas vezes, não o sabe.


ESCRITA

um homem junta letras, sons e sentidos, e escreve-os, para que venha outro homem e os ordene outra vez, de forma exacta ou aproximadamente igual. isto repete-se até vir um homem que diga os mesmos sons e entenda o oposto do pensaram os outros. a escrita serve para isso.