30 novembro 2006

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LIII

Vive. As alternativas, consideradas todas as hipóteses, são muito mais monótonas.



LIV

Percorre o túnel até ao fundo. Se não encontrares uma luz, é porque a lâmpada se fundiu.

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do Caderno de Pensamentos do Sr. Anacleto da Cruz

29 novembro 2006

a. pedro correia
2004
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28 novembro 2006

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LI

Grita mais alto do que o trovão. Verás que ele acabará por se calar.



LII

Há dias em que o mundo parece arrepender-se de ter nascido. Cabe-te tentar consolá-lo.
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do Caderno de Pensamentos do Sr. Anacleto da Cruz

27 novembro 2006

O LIVRO DOS BONS PRINCÍPIOS

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VII
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Mr. Gallagher acordou e preparou-se para o seu mergulho matinal. Abriu a porta, deu dois passos para o exterior, esbugalhou os olhos, fechou-os, voltou a abri-los e esfregou-os com as costas das mãos. Não restavam dúvidas: alguém roubara o barco.
A prometida beleza da manhã desvanecera-se subitamente, apesar de as águas se apresentarem lisas e límpidas, tão límpidas e tão lisas como se nunca, em qualquer circunstância, um barco as houvesse, sequer, tocado.
Mr. Gallagher sentou-se na velha escada de madeira e chorou. Uma tristeza imensa invadiu o vale, ensombrou o ar e abateu-se violentamente dentro de si. Não suportaria aquela perda. Depois da morte da mulher, o barco era a única alegria, a única nesga de vida que lhe restava. Uma pergunta começava, no entanto, a insinuar-se no seu espírito: como poderia um barco de seis metros ter desaparecido? A vida sorrira-lhe, houvera momentos em que se sentira verdadeiramente feliz, mas agora parecia querer vingar-se dele, fazê-lo pagar por cada momento de contentamento que ousara conquistar.
Procuraria o barco, haveria de reencontrá-lo, acabaria por rir-se do destino e olhá-lo bem de frente, olhos nos olhos. Tinha setenta e cinco anos. Rir-se-ia do destino sentado ao leme do seu velho barco e cantaria a canção que a mulher lhe ensinara, sobre o pedaço de vento que se apaixonara pela vela de um navio. Depois disso não se importaria de morrer. Afinal uma vida já gasta vale o que vale, e a dele valia apenas a concretização de uma última imagem: o barco ancorado de novo, diante de sua casa, pairando sobre as águas tranquilas do lago.
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Imagine o leitor-autor que pretende escrever um livro e não sabe por onde, nem como, começar. O LIVROS DOS BONS PRINCÍPIOS proporciona-lhe uma vasta gama de princípios para conto, novela ou romance que o leitor-autor poderá seleccionar livremente. Depois terá apenas que escrever o resto demorando o tempo que entender.
Às Segundas-feiras no Afinador de Sinos
às Terças no Divas e Contrabaixos
às Quartas no Ponto.de.Saturação

24 novembro 2006

a. pedro correia
2004
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23 novembro 2006

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XLIX

Dá à luz. Oferece à luz aquilo que desejes ver iluminado.



L

Existem diferentes formas de lavar a alma mas, caso a não encontres, nada ganhas em conhecê-las.
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do Caderno de Pensamentos do Sr. Anacleto da Cruz

22 novembro 2006

a. pedro correia
2002
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21 novembro 2006

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XLVII

Ninguém me dá ordens, ninguém me dá ordens, ninguém me dá ordens. Repete comigo: ninguém me dá…



XLVIII

Mete a lua no bolso. Poderás conservá-la contigo entre o quarto minguante e o quarto crescente.
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do Caderno de Pensamentos do Sr. Anacleto da Cruz

20 novembro 2006

O LIVRO DOS BONS PRINCÍPIOS

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Imagine o leitor-autor que pretende escrever um livro e não sabe por onde, nem como, começar. O LIVROS DOS BONS PRINCÍPIOS proporciona-lhe uma vasta gama de princípios para conto, novela ou romance que o leitor-autor poderá seleccionar livremente. Depois terá apenas que escrever o resto demorando o tempo que entender.
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IV
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Estava farto de gajos porreiros. Também ele fora um gajo porreiro, mas isso fora há muitos anos. Com o passar do tempo apercebera-se de que os gajos porreiros, ou são parvos, ou são enormíssimos filhos-da-puta travestindo simpatia. Ele pertencera à categoria dos parvos, fora o príncipe dos parvos, o porreiraço-mor, o homem dos consensos, dos acordos, o que queria estar de bem com deus e com o diabo, o compreensivo, o dos mil e um perdões. Mas o tempo estraga tudo e dá cabo, principalmente, dos bons intentos. Aos vinte anos pode ser-se ingénuo, ajuda ser-se crédulo, é-se, sem esforço, um gajo porreiro. Mas, aos quarenta?...
Por isso saiu de casa, sério e resoluto. Tinha quarenta e dois anos e uns assuntos por resolver. O primeiro deles era acertar o relógio da sua vida.
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O LIVRO DOS BONS PRINCÍPIOS
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Segundas-feiras no AFINADOR DE SINOS
Terças-feiras no DIVAS & CONTRABAIXOS
Quartas-feiras no PONTO.DE.SATURAÇÃO

17 novembro 2006

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XLV

Se o peixe se imaginar pássaro, não interfiras. Ele acabará por se decidir sozinho.



XLVI

Junta um palito por cada porco que tenhas. Vários palitos fazem uma vara.
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do Caderno de Pensamentos do Sr. Anacleto da Cruz

16 novembro 2006

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XLIII

Não firas o silêncio. Se, no entanto, o ferires, presta-lhe os primeiros socorros.



XLIV

Constrói castelos na areia. Recorda-os, para que durem muito tempo.
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do Caderno de Pensamentos do Sr. Anacleto da Cruz

15 novembro 2006

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Hoje, Quarta-feira, no Ponto.de.Saturação
Às Segundas n'O Afinador de Sinos
Às Terças no Divas e Contrabaixos,
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O LIVRO DOS BONS PRINCÍPIOS
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" É verdade que funciona. Desde que comecei a utilizar este método, já escrevi 1366 páginas, sem qualquer dificuldade. Por este andar, concluo os dois terços que faltam antes do final da semana."
Leitor-autor devidamente identificado
a. pedro correia
2002
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14 novembro 2006

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XLI

Desafia a lei da gravidade. Ri-te.



XLII

Coloca as palavras gastas num contentor apropriado.
Recicla-as.
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do Caderno de Pensamentos do Sr. Anacleto da Cruz

O LIVRO DOS BONS PRINCÍPIOS

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ÀS SEGUNDAS-FEIRAS N'O AFINADOR DE SINOS
ÀS TERÇAS (HOJE) NO DIVAS E CONTRABAIXOS
ÀS QUARTAS NO PONTO.DE.SATURAÇÃO
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O LIVRO DOS BONS PRINCÍPIOS
" Inícios possíveis para livros virtuais"

13 novembro 2006

O LIVRO DOS BONS PRINCÍPIOS

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Imagine o leitor-autor que pretende escrever um livro e não sabe por onde, nem como, começar. O LIVROS DOS BONS PRINCÍPIOS proporciona-lhe uma vasta gama de princípios para conto, novela ou romance que o leitor-autor poderá seleccionar livremente. Depois terá apenas que escrever o resto demorando o tempo que entender. Inúmeras obras-primas foram já produzidas utilizando esta técnica, não temamos a palavra, revolucionária.
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I
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A forma como José Maria foi ali parar representa um mistério. Lembra-se de ter ido passear Oxalá, o setter irlandês de pêlo acobreado, depois do jantar, lembra-se de, a dada altura, o ter ouvido rosnar. Depois, lembra-se apenas de ter acordado ali, não sabe há quantos dias. Está escuro, está sempre escuro, ainda que os olhos se habituem, nada há para ver; apenas breu, negro cerrado, trevas. Parece-lhe que está numa gruta natural, pelo chão corre um ínfimo fio de água. Alimenta-se de umas coisas viscosas que se movem lentamente. Quando as trinca retorcem-se na sua boca , mas não têm mau sabor. A sua maior preocupação, agora que quase desistiu de poder regressar ao que fora a sua vida anterior, é saber como ali chegou.
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SEGUNDO PRINCÍPO amanhã no DIVAS & CONTRABAIXOS
TERCEIRO PRINCÍPIO Quarta-feira no PONTO.DE.SATURAÇÃO
Às Segundas-Feiras n' O Afinador de Sinos,
Às Terças-Feiras no Divas & Contrabaixos,
Às Quartas-Feiras no ponto.de.saturação,
O LIVRO DOS BONS PRINCÍPIOS
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Quer, o leitor-autor, escrever um livro, um conto, uma novela?
O LIVRO DOS BONS PRINCÍPIOS oferece-lhe o início.
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( continuações do texto, sugestão de princípios, comentários, etc. são bem recebidos. )

10 novembro 2006

O LIVRO DOS BONS PRINCÍPIOS

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Às Segundas-feiras, a partir da próxima, O Afinador de Sinos, em colaboração alternada com Divas & Contrabaixos e ponto.de.saturação, começará a publicar O LIVRO DOS BONS PRINCÍPIOS. Inicia assim:

Imagine o leitor-autor que pretende escrever um livro e não sabe por onde, nem como, começar. O LIVROS DOS BONS PRINCÍPIOS proporciona-lhe uma vasta gama de princípios para conto, novela ou romance que o leitor-autor poderá seleccionar livremente. Depois terá apenas que escrever o resto, demorando o tempo que entender. Inúmeras obras-primas foram já produzidas utilizando esta técnica, não temamos a palavra, revolucionária.

Não perca. Na blogosfera a partir de 13 de Novembro.
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XXXIX

Ocupa-te de um animal imaginário. É económico e entretém.



XL

Podes pedir à pena da ave que voe. Porém, não lhe peças que cante.
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do Caderno de Pensamentos do Sr. Anacleto da Cruz

09 novembro 2006

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XXXVII

Há três coisas que não podes fazer. É inútil que saibas quais são.



XXXVIII

Morre um bocadinho todos os dias. Assim, no final, faltará muito pouco.

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do Caderno de Pensamentos do Sr. Anacleto da Cruz

08 novembro 2006

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XXXV

Vive uma vida que seja tua. As vidas emprestadas pagam juros mais altos e são mais sensíveis às flutuações.


XXXVI

Constrói uma jangada de pedra. Fundeia-a numa baía de areia.

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do Caderno de Pensamentos do Sr. Anacleto da Cruz

07 novembro 2006

EQUILÍBRIO (II)

a. pedro correia
Centro Cultural de Lagos
2004
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06 novembro 2006

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XXXIII

Veste um fato preto. Põe um chapéu preto, uns sapatos pretos e uns óculos pretos. Se não gostares do resultado, muda de roupa.



XXXIV

A ordem natural das coisas é não discutir, entre ti e a pulga, quem alimenta quem.
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do Caderno de Pensamentos do Sr. Anacleto da Cruz