04 dezembro 2006

O LIVRO DOS BONS PRINCÍPIOS

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IX
Quando eu nasci ofereceram-me de presente um vaso de hortênsias. O meu pai agradeceu a intenção e plantou-as no fundo do quintal. Eu era pequena e brincava junto das hortênsias. Passaram-se quase oitenta anos e apercebo-me de que elas me acompanharam ao longo dos acontecimentos da minha vida. Aos Domingos a minha mãe fazia os meus pratos favoritos e compunha um ramo de hortênsias que colocava no centro da mesa. Nas duas vezes que casei havia hortênsias. Quando os meus filhos nasceram, ofereceram-me hortênsias. No dia do meu aniversário ofereciam-me hortênsias. Se alguém desejava o meu perdão pedia-o com um ramo de hortênsias nas mãos.
Agora, neste preciso momento, espero o meu advogado para lhe ditar o meu testamento. Quero deixar bem claro que não haverá hortênsias no meu funeral. Não quero que elas me persigam desde o nascimento até à morte. Não se pode atravessar a vida sempre com a mesma flor cravada em nós.

Imagine o leitor-autor que pretende escrever um livro e não sabe por onde, nem como, começar. O LIVROS DOS BONS PRINCÍPIOS proporciona-lhe uma vasta gama de princípios para conto, novela ou romance que o leitor-autor poderá seleccionar livremente. Depois terá apenas que escrever o resto demorando o tempo que entender.
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5 comentários:

Maria do Rosário Sousa Fardilha disse...

:) acho que só pode___ ter havido umas traições às hortênsias. proibir hortências apenas no dia do funeral não seria fugir delas. e tenho para mim que essa exigência testamentada é um recado para alguém...

ivamarle disse...

o documento com o caderno de pensamentos do Sr. Anacleto já vai com sete páginas e continuo a adorar!!!!!!

inominável disse...

mas afinal, que culpa têm as hortênsias se a vida lhe trouxe alguns cardos? e se foi com hortênsias que enfeitou a campa do marido?

sabes, eu gosto de estrelícias. e de mal-me-queres. e ainda sou daquelas que não se importam de ver a vida a abrir-se num ramo de rosas vermelhas rubras... sou lamechas e piegas e de gostos simples... e nunca as proibiria no meu funeral... nem na minha ressurreição...

Anónimo disse...

Julgo que a referida senhora tem o direito de se cansar das hortênsias.

inominável disse...

LOL

Parece a resposta do senhor Anacleto, ele que não nos oiça!!!