12 março 2007

O LIVRO DOS BONS PRINCÍPIOS (XXXVIII)

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Caíra uma vaca na praia e os homens da aldeia discutiam entre si como haviam de a remover. O animal aproximara-se demasiadamente da falésia, o chão cedera sob o seu peso e viera cá parar abaixo.
Tratava-se de uma pequena aldeia junto à Enseada dos Milagres, na Ilha das Tempestas. Pelos vistos acontecera novo milagre, já que a vaca não sofrera um único arranhão depois de uma queda de quase vinte metros.
A aldeia não dispunha de uma grua capaz de a içar e devolver ao pasto, o bicho recusava-se a subir a escadaria tosca que as pessoas utilizavam. Alguém trouxera um bote baixo e largo que se revelara inútil, havia já quem achasse que só morta e retalhada em quartos se poderia recuperar a carne, todo o restante trabalho seria pura perda tempo.
Foi então que surgiu o estrangeiro. Era um homem alto, louro, falava uma língua eslava que ninguém compreendia e, em vez de palavrear, arregaçou as mangas, explicando-se por gestos. Seriam necessárias cordas, o homem fez o gesto de alguém enforcado, um tronco, o viajante desenhou uma árvore na areia e retirou-lhe os ramos, e uma roldana, "disse" ele rodando os indicadores, um sobre o outro. Não era momento para desconfianças e reservas, e a gente da aldeia foi-se unindo e seguindo as suas indicações. Quando a vaca regressou ao lugar que lhe pertencia e foi pacatamente juntar-se às outras, todos o olharam como se fosse um deles. Foi por essa razão que ele, pouco a pouco, ano após ano, se tornou um tempestino e deu origem a uma prole que se destacou no governo e nos negócios da ilha.
A filha mais velha...
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continua amanhã no Divas & Contrabaixos
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2 comentários:

Maria do Rosário Sousa Fardilha disse...

Chamava-se Roman Abramovich? ;)

Maria do Rosário Sousa Fardilha disse...

PS: Copiei este Princípio para a casa-mãe.

bjs