06 março 2007

Grandes Portugueses Anónimos (IV)

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É hoje pacífico que se tratava de uma mulher, apesar do aceso debate que existiu ao longo dos tempos entre antropólogos e historiadores.

Imaginamo-la com o bigode já um pouco grisalho e com a barba escondida pelo lenço que usava amarrado debaixo do queixo. Terá visto a luz coada pelos fumeiros de Montalegre, ou reflectida nas escarpas enegrecidas de Pitões das Júnias, ou afagando os granitos arredondados de Montemuro.

Foi a grande estilista da sua época. Sem ela Humphrey Bogart não teria sido Humphrey Bogart, os detectives não usariam gabardinas, os impermeáveis não existiriam, os gauleses desconheceriam o actual significado da palavra griffe, Fátima Lopes permaneceria ancorada no seu rochedo natal. Sem as suas bochechas coradas e sem o seu sorriso desdentado o conceito contemporâneo de bio-arte estaria por inventar, a indústria têxtil daria ainda os primeiros passos.

Paris e Milão aproveitaram o seu contributo para a História melhor do que Lisboa, incapaz de avaliar a real dimensão do seu génio, e permanecerá, cá como lá, anónima até ao findar dos tempos.

Ganhou, pelo seu inquestionável bom-gosto, pelo atrevimento das suas propostas e pela sua lendária noção de espectáculo, o direito de ombrear com os raros Grandes Portugueses Anónimos, a autora e criadora da capa de burel e da croça de juncos.

3 comentários:

ivamarle disse...

e haverá algo mais quente que uma capa de Burel? (excluindo a pele de foca...)

Anónimo disse...

de preferência quando usada pela própria foca!...;)

Luísa disse...

Capa de burel...
muito procurei por este termo, há alguns anos... por causa de uma pintura.