25 maio 2006

LUANDINO VIEIRA II

Luandino Vieira anunciou ontem que recusa, por razões pessoais, o Prémio Camões. Ao não especificar os motivos que o levaram a tomar essa decisão, Luandino esvazia, de certo modo, a força da sua recusa. Porque nega um escritor um prémio com o prestígio do Camões? Porque não acredita em prémios? Porque tem uma posição, digamos, política que o impede de avalizar o prémio, aceitando-o? Por modéstia? Por imodéstia? Porque, entretanto, se distanciou da sua própria obra? Porque a realidade do país sobre o qual escreveu se afastou da realidade que a literatura de Luandino sonhava? Por desilusão? Em relação a quê? A quem?
Ao invocar, apenas, razões pessoais, Luandino retira importância à sua própria atitude. É pena. A recusa de um prémio pode, muitas vezes, adquirir uma carga simbólica importante e ajudar a demarcar as águas. Assim, sem mais, confunde-se somente com desinteresse e vontade de não inscrição.

1 comentário:

ivamarle disse...

tens toda a razão.estas justificações baseadas em motivos pessoais, sem mais explicações, ainda são toleráveis em termos de aceitação de determinados cargos, por exemplo.Agora, reduzir a recusa de um prémio de tal mérito, a duas palavras sem qualquer contexto, deixa-me desiludida, mais ainda no caso em questão.