22 maio 2007

Uma catadupa de Bons Princípios

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Eis que, de repente, começaram Bons Princípios a jorrar. Como diz a MRF , venham mais cinco. Trancrevo-vos o princípio de cada novo Bom Princípio. Depois podem lê-los na íntegra aqui.
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LII
A paisagem parecia ser imutável. As ondas iam e vinham da mesma maneira tranquila e quase silenciosa do passado. O sol era, quando entrava lentamente no mar, do mesmo laranja intenso e quase perfeito. O areal permanecia tão denso e suave como quando de mãos dadas caminhavam descalças a sorrir e a amar a vida. Parecia tudo igual. Tudo tão terno e eterno.
João Francisco
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LIII
Do que ele tinha medo era do poço das palavras dela. Não queria escutá-la por muito tempo por isso replicava e contrapunha, percebendo que precisava do confronto para não lhe dar espaço. Sabia que ganhava nos argumentos, treinados desde o berço ou desde a definição dos genes. Habituou-se, pois, a ficar à tona, mas temia-lhe a dimensão do olhar mesmo em silêncio.
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LIV
Disse-lho depois do sexo. Disse-lhe enquanto o mirava no espelho grande quando se afastou até à porta do quarto, nua. Memorizou-lhe as costas curvadas em harmónio os pés enclavinhados no tapete a testa luzidia apoiada nos nós dos dedos, adivinhando-lhe os tremores e nada mais que isso.
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LV
Há tanto tempo que vivia com o gato que deixara de lhe dar a importância da vida. Sabia que aquele aglomerado de massa e energia respirava, mas não se dava conta dos seus movimentos calculistas nem dos seus instintos felinos. Alimentava-o da mesma forma que todas as noites girava duas vezes a chave para trancar bem a porta de casa por dentro, ou que desligava e ligava a televisão.
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Obrigado a todos e venham mais cinco ( de uma assentada ou um a um)

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