23 abril 2007

O LIVRO DOS BONS PRINCÍPIOS (XLVIII)

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Envelhece-se, com alguma sorte, envelhece-se. José Nascimento resignava-se com a gota, com o reumatismo, com a falta de ar, com a dor pemanente no peito.
A velhice terá certamente algumas vantagens, mas Nascimento não se conseguia lembrar de nenhuma. Habituara-se a lidar com as coisas, aprendera técnicas para compensar o inexorável esvair da virilidade, conseguia, por vezes, aplacar o medo e o terror nocturno, ignorava certos sinais com que o corpo o desafiava.
O pior de tudo era a má-disposição. Dava por si sempre mal-disposto, rezingava, resmungava por tudo por nada, tornara-se, lentamente, de forma quase imperceptível, o oposto do homem alegre que recordava ter sido.
Houvera um momento da sua vida que matara a alegria, ou esta fora-se consumindo até não restar traço nem centelha, até sobrar apenas amargura e cepticismo? Merda, repetia para si próprio, merda, merda, merda.
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