18 janeiro 2007

A OFICINA DO AFINADOR

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Sinos Afinados

Chamava-se Goranka. Era croata e chegou a Portugal na sequência da guerra civil que desmembrou a Jugoslávia.
Vinha cheia de energia e de vontade de fazer coisas novas. Pouco a pouco, os fantasmas - os da guerra e outros - começaram a assaltar a sua cabeça. Tinha alturas em que se julgava perseguida, imaginava espiões e aparelhos de escuta, inventava formas de se livrar deles. Às vezes falava nos pais e na sua Croácia. Perguntei-lhe muitas vezes porque não regressava, agora que a paz tinha voltado. Nunca quis.
Soube, hoje, que morreu. A Gora era minha amiga, foi sempre minha amiga. A Gora era, verdadeiramente, amiga dos seus amigos.
Podia ter, por vezes, um som estranho, com interferências dos fantasmas da torre, mas era um sino afinado. Deixou de tocar há dois dias.

5 comentários:

Maria do Rosário Sousa Fardilha disse...

lamento, Pedro. perder um amigo é simplesmente triste. eu ainda não aprendi a lidar com a coisa.


PS: olha, houve dislexia: é Jugoslávia ;)

ivamarle disse...

este tipo de perdas demoram a sarar, mas da dor, retira e conserva a lembrança dos momentos felizes.

Angola Xyami disse...

Infelismente quem nasce morre. Resta a esperança. Aquele abraço.

Cordialmente
www.angolaxyami.com

Anónimo disse...

Obrigado a todos. Obrigado, também, pela correcção, Maria.

Anónimo disse...

Caro Pedro Correia

Obrigado pela visita ao meu blog.

"A morte saiu à rua num dia assim".
A cada instante e em cada esquina sai a ceifeira inexorável sem que haja arma alguma com que nos possamos defender...

Um abraço