Gostei imediatamente deste poema de Filipa Leal:
ODE LOUCA
Todos os homens têm o seu rio.
Lamentam-no sentados no interior das casas
de interior e como o poeta que escreve a lápis
apagam a memória com a sua água.
Os rios abandonam os homens que envelhecem
longe da infância, e eles choram
o reflexo absurdo na distância.
Por vezes, enlouquecem os rios, os homens,
os poetas nas palavras repetidas
que buscam uma ode que lhes diga
a textura. Todos procuram o mesmo:
um lugar de água mais limpa
ou um espelho que não lhes negue
a hipótese do reflexo.
O rio sofre mais do que o homem,
o poeta,
porque dele se espera que nos devolva
a imagem de tudo, menos de si próprio.
Todos os rios têm o seu narciso,
mas poucos, muito poucos,
o simples reflexo das suas águas.
De A Cidade Líquida e Outras Texturas
.
Desde então as boas críticas têm-se acumulado, como se verifica aqui, na Deriva das Palavras. Estão de parabéns, para além da Filipa, a Deriva Editores, e o António Luís Catarino, pela aposta.
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