15 janeiro 2007

O LIVRO DOS BONS PRINCÍPIOS (XXIII)

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-Ó mãe, ele tirou um macaco do nariz.
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-Ó mãe, ele é um porco, comeu o macaco.
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-Ó mãe, ele deu-me um pontapé.
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-Ó mãe, ele...
-Cala-te, estúpida. - Disse eu, e dei-lhe outro pontapé.
-Ó mãe, ele chamou-me estúpida - guinchou ela - e deu-me outro pontapé.
Odeio-a. O meu pai diz que ela é a minha nova irmã, mas eu não quero uma nova irmã. Eu já tenho a minha irmã Joana, que vive com a minha mãe verdadeira. Eu fiquei a viver com o meu pai porque em casa da minha mãe não havia espaço para montar a minha pista de automóveis de corrida. Pelo menos foi o que me disseram, mas eu já nem sequer brinco com a pista. Quer dizer, agora tenho uma Playstation que cabia na casa da minha mãe e é a isso que eu chamo uma grande verdade.
A Elsa diz que não quer ser a minha nova mãe porque eu já tenho uma, só quer ser a minha melhor amiga. Mas, então, porque é que a filha dela há-de ser a minha nova irmã? A Elsa dorme com o meu pai mas ainda tem uma casa dela. Não sei para quê, elas passam o tempo todo cá em casa. Ela tenta ser simpática mas não me engana. Vou fazer sete anos daqui a poucos dias, chamo-me joão e ela fala comigo como se eu fosse um bébé. Se o meu pai não se zangasse comigo, eu dizia-lhe que acho que ela é tão parva como a filha dela. Nenhuma delas sabe qual era o maior dinossauro que existiu, nem qual é o vulcão mais poderoso de todos. O meu pai sabe, mas também anda esquisito. Se calhar os adultos, quando se apaixonam, ficam todos parvos. Eu, quando for grande, se me apaixonar,...
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Produção conjunta
O Afinador de Sinos
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