28 fevereiro 2007

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LXXIX

A vida é um carrossel. Mas, enquanto estiveres nele, pagas o bilhete dos carrinhos de choque, da montanha russa, da casa do horror, do túnel do amor…



LXXX

Acredita. Acredita que podes duvidar.

do Caderno de Pensamentos do Sr. Anacleto da Cruz

27 fevereiro 2007



a confirmação (em três passos)

I

Primeiro veja-se a beleza destas imagens, para que se saiba do que falamos.


II

Agora compare-se esta fotografia (que tem apenas meia dúzia de anos)


com esta (mais recente mas já algo desactualizada)



III

Finalmente leia-se, com a devida vénia, este parágrafo do seu presidente no último Boletim da Câmara Municipal de Lagos:

"A par da Meia Praia outras áreas, como o Porto de Mós e a Ponta da Piedade, têm também sido alvo de propostas enriquecedoras e ambientalmente equilibradas, trazendo sérias e boas perspectivas de criação de emprego qualificado, o que contribuirá significativamente para a fixação de jovens e para o bem estar das famílias que irão bebeficiar desses novos postos de trabalho."

É a confirmação oficial, por detrás do embrulho das palavras. A Ponta da Piedade está condenada.

26 fevereiro 2007

O LIVRO DOS BONS PRINCÍPIOS (XXXIV)

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Matteo Cigogna, jovem escritor com uma novela e um romance publicados, o último dos quais com sucesso mediano, discutia entediadamente com o seu editor.
- Repito que é essa a frase que eu quero, assim mesmo, sem tirar nem pôr. Não vê que é esplêndida?
- Olhe-se bem para uma sardinha. Olhe-se bem para uma sardinha... - repetia o editor - Isto é lá frase para começar um romance! Já pensou nos leitores que uma frase destas afasta?
- É brilhante. Bri-lhan-te. É o melhor início de romance que se pode imaginar.
- E, depois, isto: Olhe-se e, por uma vez, veja-se a sardinha, demoradamente, atenciosamente, como nunca... Você acha que alguém quer ler isto?
- Isto, como diz, é precisamente o que eu quero escrever.
- Mas você quer contar a história da tal Sara, ou quer escrever um manual de pesca?
- Se ler com atenção verá que, adiante, é Sara que pensa que nunca alguém olhou verdadeiramente para si. É ela que faz a comparação, a imagem é dela: "uma espécie de sardinha".
- E que espécie de mulher se sente sardinha?, pergunto eu. - os olhos do editor trespassavam o corpo mole do escritor - Além do mais, depois de um início desses, ninguém chega a ler essa tal parte, desistem antes, não chegam a comprar o livro.
- Eu gosto da frase, acho que desperta a curiosidade, uma pess...
-Olhe-se bem para uma sardinha. Olhe-se bem para uma sardinha. Olhe-se bem... e esta coisa do atenciosamente, blá, blá, blá, e por aí fora. Ó homem, tenha paciência! Mude lá a porcaria do princípio, risque-o, faça o que quiser, mas arranje-me outro princípio, arranje, de preferência, um princípio que seja bom.
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sai hoje aqui
às terças no Divas & Contrabaixos
e não se sabe quando
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24 fevereiro 2007

Zeca Afonso (II)

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Passados alguns anos (porque a morte dele demorou muitos anos a consumar-se e, de certo modo, a outro nível, ainda não aconteceu) ouvi na rádio a notícia do seu passamento. Não consigo lembrar-me do sítio ( cidade ) onde estava. Recordo que me ocorreram estas palavras da Balada do Outono:
Águas
Das fontes calai
Ó ribeiras chorai
Que eu nao volto
A cantar
e que foi então que eu comecei chorar.

23 fevereiro 2007

Zeca Afonso





Vi-o sobre o palco algumas vezes e falei com ele duas ou três. Na última já o Zeca estava doente e estava sentado num banquinho na Av. D. Carlos I, entre a Era Nova e a Culturona ( algum destes nomes vos é familiar? ). Estávamos uns quantos "putos" à conversa com o Zeca, ele contente por estar connosco. Lembro-me nítidamente da forma quase reverencial como falávamos com ele. Todos sabíamos que Zeca já ia a bordo do combóio descendente.

22 fevereiro 2007

E eu até ando a deixar de fumar...
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Li que a Alemanha se prepara para proibir que se fume no interior dos automóveis, alegadamente porque fumar distrai os condutores e porque se trata de um lugar fechado com elevada concentração tóxica.
Será verdade. Mas imagine-se, por exemplo, um fumador solitário que seja o único passageiro do seu automóvel. Pois estará proibido de acender o cigarro já que alguém, num ministério, se preocupa com a sua saúde.
Não basta perguntar quem nos salva desta gente que nos quer salvar de nós mesmos. Eu, entre outras questões, pergunto quanto tempo falta até que venham dizer que o fazem em nome da nossa liberdade e para a proteger do mau uso que fazemos de um bem cujo valor eles sabem avaliar, em nosso nome, melhor que nós.
E, quando protestarmos, ainda vão acabar por nos chamar ingratos. .

20 fevereiro 2007

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LXXVII

Sobe até ao infinito. Excepto se o caminho para o infinito não for para cima.


LXXVIII

Se desejas uma mala de pele de crocodilo, não mates o dito. Com ele vivo nenhum ladrão ta roubará.


do Caderno de Pensamentos do Sr. Anacleto da Cruz

19 fevereiro 2007

O LIVRO DOS BONS PRINCÍPIOS (XXXIII)

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Na origem de tudo esteve um olhar cruzado, e foi o pior que podia ter-me acontecido.
Na cidade onde moro, na província, não se faz festejo, manifestação ou procissão que dispense atafulhar a minha rua com a sua presença. Eu regressava a casa a meio da tarde e lutava duramente para atravessar a turba infrene, escorregava entre corpos suados e ruidosos, esquivava-me em direcção contrária à alegria postiça daquela massa amarfanhada de corpos bamboleando-se. Devo dizer que sou algo avesso a multidões com elevado grau de excitação e procurava despachar-me.
Tentei furar por um Osama Bin Laden que, saltitando frenético e agressivo, me impedia a passagem pondo-se no meu caminho. A cara dele fitava-me sem mudar de expressão, com um ar de gozo insistente e parvo. Atrás do idiota vinha um palhaço trazendo o Papa e George Bush pela mão. Bush apresentava-se de fraldas, do pescoço pendia uma chupeta enorme que lhe caía sobre o umbigo, e o Papa, com a mão livre, abençoava os mirones curvando-se ligeiramente a cada abençoadela. Uma odalisca hirsuta e musculosa aproximou-se do palhaço e eu vi-o dobrar-se repentinamente sobre si próprio, agarrando o ventre com ambas as mãos. Bush e o Papa, sentindo-se libertos das mãos do palhaço, prosseguiram dançando alegremente, cada um para seu lado. A odalisca voltou-se na minha direcção e os nossos olhares cruzaram-se no meio do carnaval. Foi então que ele viu que eu tinha visto, e que eu vi que ele viu que eu vira. Eu, contudo, estava ainda muito longe de imaginar os problemas que vinham de começar.
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às segundas aqui,
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16 fevereiro 2007

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O Afinador tem andado um pouco ausente da blogosfera. Significa que a vida real se tem sobreposto à virtual. É bom sinal.
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Os lisboetas são uns belos idiotas! Não é que bastava alguém ter-lhe perguntado: -Podemos confiar em si? O homem tinha respondido que não e estava o assunto arrumado.
Mas como ninguém perguntou...
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14 fevereiro 2007

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Se a falta de vergonha valesse pontos Fátima Felgueiras ganharia destacada os Grandes Portugueses. A "senhora" fez tantas que se acredita que tenha um dedo nisto, ainda que o seu advogado o venha negar. Substitua-se a palavra Felgueiras por Fátima. A falta de vergonha mantinha-se, mas a hipocrisia diminuía.
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13 fevereiro 2007

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LXXV

Presta atenção ao murmúrio das águas. Se não perceberes, pede-lhes que falem mais alto.



LXXVI

Vive no limiar. Ainda que não saibas de quê, vive sempre no limiar.

do Caderno de Pensamentos do Sr. Anacleto da Cruz

12 fevereiro 2007

O LIVRO DOS BONS PRINCÍPIOS (XXXI)

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Nota do autor: o livro que se segue é uma obra de ficção.
Qualquer semelhança com a realidade não é mera coincidência.
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I
-Eu podia dizer que sou licenciado sem ser, porra, mas até é verdade que sou. Elas também, mas tu vês pelos interesses, pelos erros ortográficos, pela forma como as gajas se exprimem. Inscrevo-me como licenciado, portanto, e isso permite logo uma certa selecção. Depois escolhe-se a idade: para mim entre os vinte e cinco e os cinquenta anos. Prefiro as de trinta e tal, mas já me apareceu uma cinquentona com um corpo de vinte. A cara não era lá grande coisa mas a tipa era porreira e, no fundo, é tudo uma questão de iluminação. E tinha cá uma experiência... Aquela coisa do vinho do Porto é mesmo assim...Depois os interesses: literatura, cinema, natureza, estás a ver?
Quando se acha que vale a pena vai-se à gaveta e manda-se um poema, por acaso até tenho uma meia-dúzia bem esgalhada, e, pronto, é vê-las cair. Quando eu era puto não era bem assim. Já fodi mais gajas com a internet do que em toda a minha vida anterior.
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sai no Afinador de Sinos às segundas
no Divas & Contrabaixos às terças
no Ponto.de.Saturação às quartas

09 fevereiro 2007


da série " Sarcófagos Secretos de Leonardo da Vinci "
Escultura encerrada em sarcófago de gesso
e revelada através de raio-x
a. pedro correia
2006

Posted by Picasa

08 fevereiro 2007

A posição de cada um relativamente ao referendo sobre o aborto pertence ao próprio e a quem este decidir consultar sobre o assunto. É, portanto, uma questão de consciência individual.
Penso, no entanto, que a consciência não é uma entidade etérea e abstracta, mas sim o resultado de posições filosóficas, éticas, sentimentais e de posições mais prosaicas como desejar ou não um filho, sentir-se ou não à altura de o educar dignamente, penalizar ou não quem tenha práticas e posições divergentes.
Aceitar a voz da consciência individual significa rejeitar grande parte da argumentação que, por estes dias, atulha a comunicação. A questão não é sobre quando começa a vida, nem sobre o aumento ou diminuição da população, nem sobre "pedir desculpa à sociedade" em vez de outro tipo de penalização.
O problema é saber se uma pessoa pode ser obrigada a gerar outra pessoa se achar que não o deseja, que não o sabe fazer responsavelmente, que, por variadíssimas razões, não o pode fazer, e se a sociedade pode, finalmente, decidir por ela impondo-lhe a maternidade.
Eis porque, pesadas as razões e atendidos os meus valores de índole ética e espiritual, em consciência, estou do lado do sim.

07 fevereiro 2007

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- O problema das coisas imprevisíveis - diria o sr. Anacleto da Cruz - é não se poderem prever com antecedência.
Foi o que aconteceu com esta longa ausência do Afinador.

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LXXIII

Nenhuma esfera era redonda antes de o ser.



LXXIV

Vai, deixa-te ir nas asas do sonho. Mas transporta contigo um pára-quedas que seja real.

do Caderno de Pensamentos do Sr. Anacleto da Cruz